quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Devagar ou a correr (António Torrado)



Vai o avô a subir
Devagar, num bom andar,
E vem o neto a descer:
- Avô, eu tenho de ir
Ao quintal da Dona Ester
Pôr esta roupa a secar.
E o avô no patamar:
- Não vale a pena correr.

Vai o avô a subir
Devagar, é bem de ver.
Passa o neto, a assobiar,
A correr a bom correr,
E o avô que o vê passar
Diz-lhe, a rir,
Só por dizer:
- Ainda te vais cansar...

Vai o avô a subir
Devagar, num bom andar,
E torna o neto a descer:
- Avô, eu tenho de ir
Apanhar o Malmequer
Que fugiu sem avisar.
E o avô no patamar:
- Não vale a pena correr.

Vai o avô a subir
Devagar, é bem de ver.
Passa o neto, a assobiar,
A correr a bom correr,
E o avô que o vê passar
Diz-lhe, a rir,
Só por dizer:
- Ainda te vais cansar...

Vai o avô a subir
Devagar, num bom andar,
E volta o neto a descer:
- Avô, eu tenho de ir
À loja do Xavier
Comprar fruta para o jantar.
E o avô no patamar:
- Não vale a pena correr.

Vai o avô a subir
Devagar, é bem de ver.
Passa o neto, a assobiar,
A correr a bom correr,
E o avô que o vê passar
Diz-lhe, a rir,
Só por dizer:
- Ainda te vais cansar...

Vai o avô a chegar
Devagar, num bom andar,
E vem o neto a correr.
Sobem os dois par a par
Cansados, é bem de ver.
O neto vai a entrar
Mas deixa-se ultrapassar
E dá o primeiro lugar
Ao avô, num cumprimento,
Num gesto de registar.
Pondo o pé no patamar
Do andar do apartamento
Diz-lhe o avô a brincar:
- Chegámos ao mesmo tempo...

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